O Governo Mundial
O texto abaixo poderá ter a sua controversa, mas em bastantes pontos será muito pertinente face, aos acontecimentos diários, como os quais nos deparamos, nomeadamente, atitudes imperiais de determinados países, supostamente para defesa da democracia, da liberdade e dos direitos humanos, nas interesses estarão realmente a defender?, a economia da guerra?, o neo-colonialismo?. E será que a forma de estado é assim tão importante? não seria o governo uma boa solução? perguntas complicadas que merecem relexões prespicazes.
"Pode evitar-se a guerra por algum tempo por meio de paliativos, expedientes ou uma diplomacia subtil, mas tudo isso é precário, e enquanto durar o nosso sistema político actual, pode ser considerado como quase certo que grandes conflitos hão-de surgir de vez em quando. Isso acontecerá inevitavelmente enquanto houver diferentes Esados soberanos, cada um com as suas forças armadas e juiz supremo dos seus próprios direitos em qualquer disputa. Há somente um meio de o mundo poder libertar-se da guerra, é a criação de uma autoridade mundial única, que possua o monopólio de todas as armas mais perigosas.
Para que um governo mundial pudesse evitar graves conflitos, seria indispensável possuir um mínimo de poderes. Em primeiro lugar precisava de ter o monopólio de todas as principais armas de guerra e as forças armadas necessárias para o seu emprego. Devia também tomar as precauções indispensáveis, quaisquer que fossem, para assegurar, em todas as circunstâncias, a lealdade dessas forças ao governo central.
O governo mundial tinha de formular, portanto, certas regras relativas ao emprego das suas forças armadas. A mais importante determinaria que, em qualquer conflito entre dois Estados. cada um tinha de se submeter às decisões da autoridade mundial. Todo o emprego da força, de um Estado contra o outro, tornaria o agressor um inimigo público e implicaria o emprego, contra ele, das forças armadas do governo mundial. Estes seriam os poderes essenciais para salvaguardar a paz. Uma vez conseguidos, outros se lhes seguiriam. Haveria necessidade de corpos constituídos para desempenhar as funções legislativas e judiciais; mas tais corpos desenvolver-se-iam naturalmente se as condições militares fossem realizadas; o que é difícil e vital é dotar de uma força irresistível a autoridade central.
O governo mundial pode ser democrático ou totalitário; pode ter a sua origem no consentimento ou na conquista; pode ser o governo nacional de um Estado que conseguiu conquistar o mundo ou, pelo contrário, uma autoridade em que cada Estado, ou cada ser humano, tenha iguais direitos. Por minha parte creio que se tal governo se constituir um dia será à base do consentimento nalgumas regiões e à base da conquista noutras. Numa guerra mundial entre dois grupos de nações, pode suceder que os vencedores desarmem os vencidos e comecem a governar o mundo por meio de instituições unificadoras desenvolvidas durante o conflito. Gradualmente, à medida que se desvaneça a hostilidade provocada pela guerra, as nações vencidas poderão ser admitidas como associadas. Não creio que a espécie humana tenha suficiente habilidade política ou um elevado espírito de tolerância para estabelecer um governo mundial somente à base do consentimento. Por isso penso que um elemento de força deve ser necessário, tanto para o seu estabelecimento como para a sua protecção durante os primeiros anos."
Bertrand Russell, in "A Última Oportunidade do Homem"
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